segunda-feira, 11 de junho de 2012

Palazzo Ducale, que emoção!

Um dos maiores símbolos de Veneza, o Palazzo Ducale ou Palácio dos Doges é uma obra-prima do gótico veneziano. É impactante e deve ser visitado. São séculos de história, de tomadas de decisões e de muitas emoções.

A princípio, não esperava muito deste Palazzo, talvez pelo fato de a recepcionista ter me informado que no máximo em 2 horas eu teria visto tudo com muita calma. Julguei que não teria muito o que ver, ou que as instalações não fossem lá essas coisas. Como não havia lido nada a respeito, entrei virgem no edifício.
Desde o dia anterior eu estava curioso para vê-lo por dentro, achei tão rico em detalhes do lado de fora, tão bem conservado.

 Foto para a posteridade.


O Palazzo fica colado à  Basílica de San Marco e entre as duas construções, na Porta della Carta, chama atenção essas quatro esculturas com personagens numa atitude um pouco suspeita. Estariam  conspirando, contando algum segredo? Quem tem um guia na mão sabe tudo, eis a história: "é uma obra síria, e houve quem dissesse que retratava mouros tramando para roubar o tesouro de San Marco. A verdade é que se trata dos dois imperadores do Império Romano do Ocidente e do Império Romano do Oriente do fim do século III, Diocleciano e Maximiniano (dois augustos), conversando com seus césares , Galério e Constrâncio Cloro."

Logo na entrada avista-se a Escadaria dos Gigantes, antiga entrada de honra, projeto de Antonio Rizzo. Com duas esculturas gigantes de Marte e Netuno que foram esculpidas por Sansovino em 1566, simbolizam o poder de Veneza sobre a terra e os mares. E era aqui que acontecia a cerimônia de coroação dos Doges. E aí você já começa a viajar, imaginando toda a pompa desse evento.

Muitos visitantes não percebem esta figura  que fica numa das paredes no pátio do Palazzo. Basta parar e ler o texto para entender que se trata de um local para a coleta de denúncias. Não tem nenhuma placa explicando, mas mesmo sem saber italiano da para entender.  Seria um Disque-Denúncia da época. E acredito que devia ser comum na região do Vêneto.  E em posts futuros vocês entenderão.

Um dos corredores internos do Palazzo. Fotos, como sempre, proibidas, mas como não tinha ninguém...

A continuação da Escadaria dos Gigantes, conduz à Escadaria  de Ouro. Trabalho de Jacopo Sansovino. O teto dessa Escadaria é todo decorado em estuque branco  e folhas de ouro. No passado era reservado somente aos Magistrados e às pessoas importantes. Mas hoje, qualquer mortal sobe as escadas.

Foto: Wikipedia
No primeiro andar ficam as Salas  do Grande Conselho, do Escrutínio, do Brasão e Grimani. Nesta última o destaque fica por conta do belo quadro de Vittore Carpaccio "Leão de São Marcos", pintado em 1516. A Sala Grimani é uma homenagem à família de mesmo nome que deu 3 Doges à República de Veneza. O Leão parece que vai sair da tela a qualquer momento, mas tem um olhar doce. Ele segura um livro com a inscrição "PAX TIBI MARCE EVANGELISTA MEVS" que significa "Paz a vós Marcos, meu Evangelista". Essa Sala tem vários quadros com o Leão de São Marcos. O Santo é o Patrono da cidade. É que para se manter independente da Santa Sé, após não ter mais como patrono São Teodoro, Veneza adotou São Marcos Evangelista que foi testemunha direto da palavra divina e não ligado à Roma. Achei esse fato interessantíssimo.  E só fiquei sabendo isso porque lia todos os painéis explicativos. Logo vi que duas horas não seriam suficientes, ainda mais para um detalhista como eu.

Prosseguia a minha visita, cada vez mais encantado com tudo que via e lia.  Este afresco - São Cristóvão -  (foto acima) foi pintado em três dias por Tiziano sob encomenda do Doge Andrea Gritti em 1524. Como é que pode tanto talento assim? Arrepiante.

Imaginem  morar no Palazzo e passar todos os dias  com essa vista.

O Palazzo Ducale , além de uma cervo de pinturas fantástico, possui um acervo de armas, armaduras e outros objetos bem exóticos...

 ...como o cinto de castidade em destaque na foto acima.

Uma das raras fotos internas das Salas que consegui fazer. Nese ponto da visita estava totalmente deslumbrado com os trabalhos de Tintoretto e Veronese. mas foi na Sala del Maggior Consiglio que vivi a maior emoção da minha vida numa viagem. Algo realmente estranho e inesperado aconteceu quando entrei naquele ambiente. A Sala do Conselho Maior é enorme, mede 53m x 25m. Um Salão e tanto, ali está o maior quadro do mundo,  executado por Tintoretto e seus discípulos, com grande ajuda do filho do Artista, Domenico. A obra é "Il Paradiso".  Contemplando o quadro, o teto, o salão decorado, meu coração começou a bater acelerado, muito forte mesmo. E quando dei conta de mim, estava chorando, sem entender bem tudo aquilo. Chorava,  apenas, e até me afastei para um  dos cantos a fim de não chamar atenção. Agradeci a Deus por estar ali e poder ver tanta arte numa cidade tão mágica e especial como Veneza. Nunca, em tantas viagens que fiz e lugares que visitei havia passado por algo assim. Foi uma experiência única que me deixa emocionado até agora.
Sala del Maggior Consiglio - Espetacular (foto pesquisa na internet)
Recuperado do momento especial que tive, sequei as lágrimas e prossegui, ainda muito emocionado.
 Vista das Pontes de Veneza a partir da Ponte dei Souspiri.

 Porta de Acesso às celas.

E isso era tudo que os presos viam de Veneza. Dariam aqui seus últimos suspiros??
Do segundo andar do Palazzo, um panorama da Escadaria dos Gigantes e o pátio interno com os dois poços com muro ornamental em bronze.
 
 
Terminei a visita completamente encantado, apaixonado e deslumbrado com tudo. Parecia anestesiado de tanta emoção. Não esperava um final de tarde tao fantástico. E a visita estimada em 2 horas, chegou quase a quatro horas!  E ficaria muito mais. Viajando no tempo.

Saí do Palazzo Ducale e fui caminhando pelas ruas estreitas da cidade até chegar à Ponte Rialto onde o sol jogava ainda um pouco do seu dourado sobre as antigas construções.

Um dia que jamais esquecerei.

25 comentários:

  1. Fotos maravilhosas e um relato emocionante! Obrigada por partilhar conosco um momento tão especial, um dia realmente inesquecível.

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    1. Vivian
      Eu que agradeço a sua visita e a gentileza em comentar.
      Bjs

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  2. Nossa Jorge!!
    Entendi perfeitamente tudo que você tão bem contou! Toda essa emoção inexplicável, que te levaram as lágrimas.
    Passei por isso visitando o Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, onde estão enterrados os corpos de Pedro e Inês de Castro. Uma história secular de amor.
    Fiquei tão emocionada, tão tocada, de uma forma tão intensa, que não consegui parar de chorar a ponto de ter que voltar a Quinta onde estávamos, completamente em silêncio, onde assim permaneci por horas, até me recompor.
    Foi também, o que mais me tocou em uma viagem.
    Adorei o relato.
    Beijos.

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    1. Adriana
      Sao esses pequenos acontecimentos que transformam nossas viagens em experiências!
      bjs

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  3. Nooossa Jorge, quanta emoção heimmmm...
    Que sala maravilhosa!!!
    Bjs

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  4. Como sempre tuas explanações encantam, Fortunato.
    Não temos muito a dizer porque, em verdade, essa emoção que sentistes não conseguimos transpor.
    O que fica é uma lição de cultura 'de carona'.

    beijos, obrigada.
    Maria Marçal - Porto Alegre - RS

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  5. Jorge
    quanta sensibilidade!!! vc não imagina como é gostoso ler seu relato feito com tanta emoção...Obrigada por nos proporcionar uma leitura tão contagiante...agora eu tenho certeza: EU TENHO QUE VOLTAR PARA VENEZA... bjs

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    1. Monica
      E vc vai voltar, tenho certeza! Fico feliz que a leitura esteja sendo prazerosa para você.
      Bjs

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  6. Jorge, as imagens são de tirar o folego!
    Que beleza, especialmente o teto daquela sala!

    Beijos

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  7. Vou para a segunda tentativa de comment: Caro Jorge, você tem esse dom de reproduzir suas emoções no papel (ou no blog), fiquei emocionada também. As fotos sugerem um lugar de beleza sem igual, e sua maneira de relatar eh muito agradável, vou ficar triste quando chegar ao ultimo post da viagem... Já me senti boquiaberta e petrificada de emoção diante de obras do homem e de Deus, porém a vez que chorei mais foi diante das Cataratas do Iguaçu, são magnificas! Estou adorando a sua viagem, viu?

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    1. Nilza
      Eu viajo de novo quando escrevo, e acredite, ontem estava emocionado escrevendo o post. O que vivi ali, foi realmente, único.
      Bjs

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  8. Oi Jorge!
    Acompanhei seu relato quase que sem respirar, imaginando a emoção a cada visão. Nooossa me emocionei também e senti o impacto de todas estas belezas. Me lembrou minha emoção ao entrar no Louvre. E sei que nesta sua situação o tamanho da sala mostra toda sua impotência diante de tanta beleza. É uma sensação indescritível. Amei a visita!
    Abração!

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    1. Valéria
      A Arte é um dom de Deus, acredito nisso. E acho que a minha alma já estava transbordando toda essa emoção desde Roma, em Veneza foi uma explosão.
      Bjs

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  9. Jorge
    Seu relato é realmente emocionante...
    Bjs.

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  10. Ruthia
    Fazer fotos em locais proibidos tem um gostinho especial, mas sempre ficamos tensos...rs Minhas tentativas de fotos proibidas ficaram péssimas e depois de um tempo desisitia e ficava concentradona visita.
    Acredito que todos um dia, em algum lugar, passarão por experiências emocionantes.
    Beijos

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  11. Ai, tudo nesse "mundo" euroupeu emociona e só de pensar nos detalhes nessas obras de arte, nos quadros,nas esculturas, nas escadarias, fachadas... respira-se arte e inspiração. Realmente é impar conhecer locais como esses, a sala que vc descreveu abrigar o maior quadro do mundo deve ser de arrepiar!!! Nada como absorver essa cultura.

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    1. A Europa exerce mesmo esse fascínio, pois são séculos de história. Mas o que senti em Veneza, no Palazzo Ducale, foi único. E muito bom.
      Beijos

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  12. Jorge:
    São estes momentos (raros) de intensa emoção pelos quais vale a pena viver. Na maior parte das vezes não sabemos exatamente o porque! Certamente já vimos obras de arte maiores, mais bonitas...Mas, é a mágica do momento. Senti isso duas vezes: uma ao entrar na Notre Dame, durante o cantar do coral (e eu não tenho religião...), a outra foi quando vi, ao vivo, uma obra do pintor ucraniano Kazimir Malevich no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo - chorei muito!

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    1. Tania
      Concordo com você. E se pudesse viveria em estado de lua-de-mel constante com esses lugares e cidades.
      Essas exepriências são enriquecedoras e inesquecíveis. E lembrá-las, como vc fez agora, é um grande prazer.
      Beijos

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  13. Jorge, que emoção forte e que momentos lindos vc captou nas fotos! Realmente Veneza é muito especial mesmo. Essa combinação de água, cores dos prédios, arquitetura e entardecer com gôndolas é maravilhoso. A música também é muito presente. Revivi minhas viagens a Veneza também com emoção. Porém, chorar, como você, aconteceu comigo várias vezes, mas não em Veneza, sempre em Paris. Uma ao ver o Noite Estrelada do Van Gogh, que estava "em tour" pelo Orsay. Outra ao ver uma composição de duas telas da exposição Matisse-Picasso no Grand Palais há uns 10 anos atrás e outra na igreja de St Sulpice ao me deparar com uma nossa Senhora que parece flutuar no topo de um nicho atrás do altar. A arte faz isso com a gente. Com música, em ópera então, nem se fala. Muito bom ler seu texto. bjs, Madá

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  14. Madá
    Viver esses momentos é o que torna a nossa vida mais feliz. E essa mágica, permanece em nossos corações para sempre.
    Beijos

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